Bom, o Master Man da Fawcett já foi abordado aqui no blog algumas vezes, mas pra quem não sabe: ele era uma cópia do Superman e saiu de cena por causa da ameaça de processo pela National (DC na época) no início dos anos 40. Isso antes da National implicar com o Capitão Marvel inclusive. Fotos de Internet.
Mas, vamos ao que interessa, o Master Man da Fawcett era um super-herói com poderes similares ao do Superman da Golden Age (era de ouro dos quadrinhos), até suas poses eram similares.
Após seis (6) aparições, o Master Man foi encerrado, caindo no limbo do esquecimento. Ele era publicado na revista Master Comics, a casa que viria a ser do Capitão Marvel Jr posteriormente, antes do mesmo ganhar revista própria. Seu criador é incerto, mas acredita-se que possa ser Newt Alfred (desenhista da primeira estória) ou Harry Fiske (desenhista da primeira capa de sua aparição), ou até ambos. Ele possuía super força, super velocidade, invulnerabilidade e super intelecto.
O Master Man na revista Master Comics #1 de 1940.
O Capitão Nazista era um vilão da Fawcett, inimigo originalmente do Capitão Marvel, mas que depois se tornou arqui-inimigo do Capitão Marvel Jr. O vilão era cruel, e como o nome deixa claro, ele era do eixo. O Capitão Nazista é um dos vilões mais conhecidos da Família Marvel. Ele possui super força, resistência e poder de voo (este último graças a seu gás). Foi criado por Ed Herron e Mac Raboy.
O Capitão Nazista na revista Master Comics #21 de 1941.
O Master Man da Marvel (conhecido como Grão Mestre no Brasil), era inimigo dos Invasores. Ele era do eixo, e seu visual é muito similar ao do Capitão Nazista da Fawcett e seu nome é o mesmo do herói esquecido da Fawcett. O Master Man da Marvel foi criado por Roy Thomas e Frank Robbins em 1975, porém vale lembrar que o primeiro era fã dos quadrinhos da Fawcett. Ele possuía super força, resistência, velocidade e poder de voo. Tanto o Capitão Nazista quanto o Master Man da Marvel foram criados pelos nazistas para combater os heróis americanos e seus poderes são similares.
O Master Man na revista The Invaders #16 de 1975.
O que eles tem em comum é o nome (Master Man e Master Man) e o visual (Capitão Nazista e Master Man). O Capitão Nazista originalmente não usava capa. É muito possível que os personagens da Fawcett inspiraram na criação do personagem da Marvel. Porém, pode ser apenas coincidência.
A revista Captain Marvel Adventures #1 de 1941 é uma das revistas mais importantes de toda a linha de quadrinhos da Fawcett Publications. Fotos de Internet.
Capa de Captain Marvel Adventures #1 de 1941 que foi desenhada por C. C. Beck, mas todo o interior foi produzido por Jack Kirby.
Primeiro, porque é o primeiro título solo regular do herói na Fawcett. A série seria mais tarde a mais popular e mais rentável da Fawcett e dos anos 40.
Segundo, porque esta edição foi toda desenhada pelo Rei Jack Kirby e escrita pelo Manly Wade Wellman e Joe Simon.
Terceiro, porque esta revista provavelmente jamais será republicada como a original, devido a Marvel Comics possuir legalmente o trademark "Captain Marvel". As estórias podem ser publicadas como já aconteceu, mas a capa não pode por causa do nome. Por esse motivo a DC nunca a relançou como fac-simile como fez com outros títulos importantes de sua história, embora a Marvel permitiu uma reimpressão nos anos 70, mas era uma editora independente.
Capa da Captain Marvel Adventures #1 de 1974 da DynaPubs. A revista é uma réplica da Fawcett, porém toda em preto e branco e com índice e anúncio nas contra capas dianteira e traseira internas. O tom da cor de fundo da capa também é diferente.
Eu tenho uma cópia da DynaPubs, graças ao meu superamigo José Neto, valeu parceiro!
Quarto, porque o material usado na fabricação da capa dessa revista pela Fawcett é frágil demais, o censo de grau de certificação de maior nota conhecida é 5.0. Quase todas conhecidas hoje apresentam restauração de alguma forma, capa desgastada, com fita adesiva ou solta. Provavelmente a Fawcett produziu a revista as pressas porque a mesma não tem índice e nem anúncios nas contra capas dianteiras e traseiras internas.
Quinto, porque estima-se que uma edição em excelente estado dela deve valer ao redor de 300 mil dólares.
Print do site Quality Comix de 2 de Março de 2025 com a avaliação da certificação da revista.
Esses fatos fazem da revista uma das mais importantes da Era de Ouro dos quadrinhos. Curiosamente, Kirby acreditava que a revista seria uma bomba e falharia miseravelmente, mas foi justamente o contrário.
Este post traz duas curiosidades interessantes do universo Fawcett:
1) O grupo formado pelo Capitão Marvel e os 3 Tenentes Marvel era chamado de "Esquadrão da Justiça" (Squadron Of Justice, 1941).
2) O grupo formado pelo Capitão Marvel Jr., Homem-Bala, Mulher-Bala e Hércules (Minute-Man) era chamado de "O Clube dos Cruzados ao Crime" (The Crime Crusaders Club, 1943).
Na Whiz Comics #21 é apresentado o grupo "Esquadrão da Justiça" (formado pelo Capitão Marvel e os 3 Tenentes Marvel).
Na Master Comics #41 é apresentado o grupo "O Clube dos Cruzados ao Crime" formado pelo Capitão Marvel Jr, Hércules, Homem-Bala e Mulher-Bala.
Esses dois grupos eram independentes, e obviamente havia o grupo mais famoso da Fawcett: a Família Marvel formada por Capitão Marvel, Capitão Marvel Jr, e Mary Marvel. As vezes, os 3 Tenentes Marvel também aparecem entre a Família Marvel. O grupo O Clube dos Cruzados ao Crime apareceu apenas uma vez.
O Capitão Marvel (como é sabido) foi licenciado pela DC em 1972 da Fawcett, e o personagem voltou com tudo. Em 1974, a Filmation produziu o seriado icônico Shazam!. O seriado é lembrado e cultuado até hoje pra quem tem mais de 50 anos, isso porque ele passou na Globo e no SBT (nos anos 70 e 80 respectivamente). O seriado teve 3 temporadas totalizando 28 episódios, cada episódio tinha cerca de 22 minutos. Cada episódio custou $70,000 mil dólares. Nos Estados Unidos o seriado foi ao ar pela CBS, passando entre Setembro de 1974 até Outubro de 1976. Inicialmente os produtores queriam Mark Harmon para interpretar o Capitão Marvel. Shazam! Foi a primeira tentativa da Filmation de fazer uma série live-action própria. Fotos de Internet.
O ator Michael Gray interpretava Billy Batson, enquanto o Capitão Marvel foi interpretado por dois atores: Jackson Bostwick e John Davey. O mentor do Billy era interpretado pelo saudoso Les Tremayne. Billy viajava pelos Estados Unidos resolvendo problemas e ajudando as pessoas. Michael Gray tinha 24 anos quando a série começou. A série não trouxe outros personagens importantes na mitologia do Capitão Marvel como Mary Marvel, Capitão Marvel Jr, o mago Shazam ou outro, porque tinha que pagar por uso (pois eram personagens licenciados). Por isso a serie só trazia o Capitão Marvel que era o foco.
Les Tremayne, Michael Gray e Jackson Bostwick.
Les Tremayne, Michael Gray e John Davey.
O Capitão Marvel (Jackson Bostwick na foto) voava com tecnologia simples.
A produção usava cabos e um carro com câmera.
Em algumas cenas o ator era colocado na frente de uma tela com cenário em movimento para simular vôo.
Curiosamente, o seriado misturava live-action com animação, acontece que os deuses que davam poder para o Billy eram animados no seriado, o raio que o transformava também. Cada episódio terminava com um conselho do Capitão Marvel, que foram todos filmados no mesmo dia em Franklin Canyon Reservoir no Bel-Air.
Billy Batson perante os anciãos que lhe concedem o poder. No seriado eles ajudavam e conversavam com Billy. Os anciãos substituíram o mago Shazam.
O Capitão Marvel aparecia sempre no final do episódio dando conselhos.
O seriado enfrentou problemas que acabaram afetando seu desempenho e com isso a audiência. Jackson Bostwick se feriu no olho durante as gravações (ele foi ao médico que o aconselhou descanso), mas a produção achou que ele queria aumento e ele acabou sendo substituído pelo John Davey no começo da 2° temporada. Foi rápido e sem muitas explicações.
Até hoje Jackson Bostwick confirma que se machucou e tem provas do ocorrido (gravadas com sua câmera na época), mas isso arranhou sua imagem. Conta-se que ele pediu apoio de Michael Gray para que o ajudasse, mas não teve resposta (eu não posso confirmar isso, mas é o que li na internet, então tem que tomar cuidado). Jackson processou a Filmation na época e ganhou, recebendo pela série, pelo seu contrato e residuais, sua gravação caseira com a lesão no olho direito o ajudou a ganhar o caso. Atualmente Michael Gray e John Davey aparecem em eventos juntos, o que parece indicar alguma mágoa passada ocorrida entre eles e Bostwick. Mas, os três aparecem em eventos populares sobre quadrinhos e cultura geek. Jackson Bostwick esta preparado um livro contando sua experiência como Capitão Marvel e os bastidores assim como o acidente ocorrido com ele.
John Davey, segundo se conta, não queria atuar como Capitão Marvel no início, mas aceitou quando seu filho ficou entusiasmado com a ideia do pai ser o herói.
O seriado também apresentou o primeiro crossover de super-heróis na TV: que foi o encontro do Capitão Marvel com Ísis, outro seriado da Filmation. Um marco pra época.
Ísis (Joanna Cameron) e o Capitão Marvel trabalhando juntos.
Ísis e o Capitão Marvel voando.
O encontro do Capitão Marvel com a Ísis também aconteceu na HQ, em Shazam! #25 de Setembro-Outubro de 1976.
O Capitão Marvel de Jackson Bostwick é o favorito da maioria dos saudosistas americanos (quando comparado ao John Davey). A música de abertura desse seriado também foi usado no desenho Shazam! de 1981 da Filmation.
O Capitão Marvel favorito dos fãs americanos dos anos 70 é o Jackson Bostwick (considerado mais carismático que John Davey).
A abertura do seriado de 1974.
O seriado apresentou o Mentor, que era mais ou menos uma mistura de tio Dudley e mago Shazam. Ele era um amigo idoso (como Dudley) que ajudava e dava conselhos ao Billy (como o mago nos quadrinhos). Outra inovação da série televisiva foi o Eternifone (Eterni-phone no original) usado para contactar os deuses anciões. A série fez tanto sucesso que a HQ do Capitão Marvel na época acabou ficando parecida com o seriado (a partir de Shazam! #26 de Novembro-Dezembro de 1976).
Les Tremayne era um amigo e conselheiro do Billy (uma mistura por assim dizer de Dudley e Shazam).
O Eternifone estava sempre com Billy Batson no furgão na série. O aparelho era usado para invocar os anciões.
Furgão usado por Mentor e Billy na série de TV.
Na HQ, o mago Shazam doa o equipamento Eternifone para Billy se contactar com os anciões.
Billy viajava num furgão semelhante ao do seriado.
Dudley deixou o bigode crescer e ficou parecido com o Mentor.
A série Shazam! foi um sucesso e até hoje é bastante cultuada nos Estados Unidos. Michael Gray fez uma participação especial no filme Shazam! Fúria dos Deuses de 2023. Michael Gray ficou tão marcado pelo papel de Billy Batson que teve dificuldades pra arrumar papéis.
Michael Gray foi homenageado em Shazam! Fúria dos Deuses onde fez uma participação especial.
Devido ao sucesso imediato de Whiz Comics #2 de Fevereiro de 1940, o Capitão Marvel foi se tornando cada vez mais popular. A Fawcett lançou uma edição especial do Capitão Marvel em 1940 com boa recepção, o que incentivou a editora lançar uma revista solo do herói no ano seguinte após o especial.
Ao que parece, esse lançamento da revista solo foi as pressas, porque a contra capa dianteira e a contra capa traseira da revista são vazias, ou seja, sem anúncios ou propagandas. A revista foi batizada de "64 Pages of New Captain Marvel Adventures", e a partir do quarto número, o título foi editado para "Captain Marvel Adventures". Como esta revista foi lançada em Março de 1941 é possível que foi feita para coincidir com o seriado do herói cujo nome: Adventures of Captain Marvel além de similar ao título também foi lançado no mesmo mês e ano.
Fotos de Internet do restaurador Excelsior Conservation. Note que as capas internas são vazias.
Existe outra foto da revista original restaurada do Capitão Marvel #1 da Internet que também mostra que a contra capa era vazia, sem anúncios. Esta foto é de outra revista restaurada, sem conexão com a anterior.
Contra capa traseira original restaurada (sem anúncios) do Captain Marvel Adventures #1 de 1941.
Em 1999, na série Shazam Archives v2, a DC reproduziu o interior da revista Captain Marvel Adventures #1 na integra (exceto a contra capa traseira), mas a editora colocou um anúncio do seriado do herói como que se isso fizesse parte da contra capa, mas originalmente isso não fazia, ao julgar pelas fotos acima.
Paginas do Shazam Archives v2 correspondente as paginas 64 e 65 de Captain Marvel Adventures #1. O site comic.org seguiu erroneamente essa mesma ordem do Shazam Archives v2.
Curiosamente este não foi o único título com as contra capas dianteira e traseira vazias, sem propagandas: a Wow Comics #1 também foi lançada assim.
As contra capas da Wow Comics #1 de 1940 também são vazias, sem propagandas. Fotos de Internet do site cgc.
Uma curiosidade: No início dos anos 80 quando as estórias da Família Marvel eram publicadas na revista Shazam! pela Ebal, aqui no Brasil houve uma adaptação para não divulgar a suástica (símbolo religioso antigo pertencente a várias culturas que foi corrompido pelos infames nazis). O Capitão Nazista (Capitão Nazi na Ebal) é um dos inimigos mais antigos do Capitão Marvel, e a Ebal optou por não mostrar a suástica deixando apenas um círculo negro no peito. Fotos de Internet. Veja abaixo as paginas comparadas de World's Finest Comics #258 de 1979 e O Livro do Ano dos Super-Heróis de 1981 da Ebal:
Capitão Nazista na versão original americana. Capitão Nazista na versão da Ebal sem o símbolo.
Outra pagina da versão original americana. Outra pagina da Ebal editada.